quarta-feira, 12 Agosto, 2020 - 19:24
Cães são testados para detectar cheiro de pessoas com Covid-19 em estudo liderado pela UFRPE
Pesquisa, em parceria com Escola Nacional Veterinária de Alfort, na França, pretende mostrar que animais distinguem odor de um infectado do exalado por pessoa sadia.
Por G1 PE
Projeto treina cães farejadores para identificar pacientes com Covid-19
Pesquisadores da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), na Zona Norte do Recife, lideram, no Brasil, um estudo internacional que utiliza cães para identificar de forma precoce a Covid-19 pelo cheiro do doente (veja vídeo acima). A equipe pretende comprovar que os cachorros treinados têm capacidade para distinguir a diferença do odor de um infectado do exalado por uma pessoa sem a doença provocada pelo novo coronavírus.
A pesquisa está sendo realizada com a Escola Nacional Veterinária de Alfort, na França. O estudo tem três fases distintas, sendo que a última prevê o uso dos cães para detectar a Covid-19 em locais com grande aglomeração de pessoas, como shoppings, teatros e shows.
A iniciativa integra o Projeto Internacional Nosaïs. Estão sendo usados cães da instituição Amarante do Brasil, que financia o material e treina os animais. O treinamento dos cachorros é realizado pelo instrutor Jorge Pereira.
Equipe da Rural está desenvolvendo estudo com cães para identificar de forma preoce a Covid-19 por meio do cheiro do doente — Foto: UFRPE/Divulgação
“Essa pesquisa foi aprovada por conselhos de ética que atuam em estudos com animais e humanos”, informou, nesta quarta-feira (12), o biólogo Anísio Francisco Soares, coordenador da pesquisa na Rural de Pernambuco.
Em Pernambuco, a UFRPE conta com o apoio da Secretaria de Saúde de Paudalho, na Zona da Mata Norte, distante 40 quilômetros do Recife. O município disponibilizou equipes para fazer a coleta de voluntários que apresentaram sintomas de síndrome respiratória.
“Fomos procurados em abril pela instituição francesa. Começamos a coletar material e enviamos para São Paulo. Lá, os animais treinados mostraram que são capazes de reconhecer o cheiro do suor de uma pessoa com a Covid-19, que é diferente de quem não tem a doença”, disse o professor Anísio Soares.
Segundo ele, a primeira fase, em andamento, consiste na coleta de material e deve seguir até setembro. Soares conta que as pessoas são procuradas pelos agentes de saúde para o recolhimento de secreções, por meio do teste RT-PCR, aquele em que se usa uma espécie de cotonete, e para o armazenamento do suor.
A amostra de secreções é importante para mostrar quem tem e quem não tem sintomas. No caso do suor, são usados chumaços de algodão para fazer a coleta das axilas da pessoa.
Pesquisadores fazem testes para mostrar que cães farejadores conseguem distinguir cheiro de pessoa com a Covid-19 — Foto: UFRPE/Divulgação
“O coronavírus não tem cheio, mas a pessoa infectada exala um suor com características específicas. Nós chamamos de biomarcadores moleculares. Para fazer o armazenamento, a pessoa fica 20 minutos com o algodão embaixo dos braços”, informou.
Até esta quarta, a equipe da Rural tinha conseguido coletar 100 amostras de chumaços de algodão. Uma parte ficou no Recife e a outra seguiu para uma instituição em São Paulo, onde estão os cães farejadores.
“Os cães passam na frente das amostras, que são numeradas, em caso de detectar o cheiro característico, são treinados para sentar e esperar um brinde. "E possível mostrar que eles conseguem fazer isso”, comentou.
A pesquisa segue em laboratórios dos Departamentos de Morfologia e Fisiologia Animal (DMFA) e Medicina Veterinária (DMV) da UFRPE. Nesses locais, os pesquisadores identificam os biomarcadores, ou seja, as moléculas que estão presentes na reação do vírus com a sudorese humana.
Isso é feito por meio de cromatografia gasosa e HPLC, além de tecnologia sofisticada e precisa que está sendo utilizada em estudo semelhante na França.
Material usado para coletar suor de pessoas testadas para a Covid-19 está armazenado na UFRPE — Foto: UFRPE/Divulgação
Outras fases
Ainda de acordo com Soares, a segunda etapa da pesquisa prevê a atuação de dois cães em Paudalho. A ideia é testar as pessoas em salas monitoradas, fazendo com que os animais farejem o odor diretamente nas pessoas.
“Nessa etapa, será preciso seguir um protocolo específico. A pessoa com síndrome gripal deverá se apresentar sem poder tomar banho por 24 horas e sem usar desodorante. Vamos mostrar que os cães conseguirão detectar o cheiro. A contraprova da identificação feita pelo cão poderá ser confirmada dois dias depois, com o resultado da RT-PCR”, acrescentou.
Na fase três, disse coordenador da pesquisa, a ideia é levar os animais para locais com aglomeração para testar as pessoas e evitar a disseminação do novo coronavírus.
Para o professor Soares, isso será importante em um momento em que se está reduzindo o isolamento social, para proteger ambientes com grande circulação de pessoas.
Cão farejador está sendo usado em pesquisa para detectar cheiro de pessoa com a Covid-19 — Foto: UFRPE/Divulgação
“Assim que os cães, devidamente treinados, identificarem essas pessoas, elas serão notificadas e encaminhadas para isolamento social ou tratamento, evitando, assim, novas ondas de pico da doença. É um trabalho semelhante ao que ocorre em aeroportos, na detecção de entorpecentes e explosivos, além de doenças como malária e câncer”, ressaltou.
Segundo o pesquisador, a partir dessa iniciativa, será possível facilitar a triagem dos viajantes portadores da doença nos postos de fronteira, portos, rodoviárias e aeroportos, e auxiliar na retomada segura das atividades profissionais.
Além disso, será possível viabilizar a pré-testagem de um grande número de pessoas, com o objetivo de testar convencionalmente apenas aqueles indivíduos que são positivos a esse pré-teste, economizando material e tempo. De acordo com os treinadores da Amarante, os cães podem testar até 500 pessoas por hora.
Além do professor Anísio Soares, que tem doutorado em ciências biológicas e atua na área de fisiologia, a equipe da UFRPE conta com mais três cientistas.
São eles: professora Rita Maia, veterinária com doutorado em microbiologia e atua na área de virologia, e Leucio Alves, veterinário com doutorado em medicina veterinária, das área de parasitologia, além da professora Jeine Silva, veterinária com doutorado em biociência animal, na área de morfofisiologia.
Covid-19 em Pernambuco
Com mais 1.393 casos e 41 óbitos, Pernambuco soma 107.375 casos e 7.049 mortes
Nesta quarta-feira (12), foram confirmados mais 1.393 casos e 41 óbitos de pacientes com o novo coronavírus em Pernambuco (veja vídeo acima).
Com isso, o estado passa a somar 107.375 confirmações e 7.049 mortes provocadas pela Covid-19. Os números são contabilizados desde 12 de março, data da confirmação dos primeiros casos no estado.
LINK: Cães são testados para detectar cheiro de pessoas com Covid-19 em estudo liderado pela UFRPE