JavaScript não suportado

 

[JORNAL DO COMMERCIO] Natureza mais cheia de vida

Os relatos de visitas inesperadas – e muito bemvindas – de animais são muitos, em todo mundo. Javalis foram avistados em Barcelona, na Espanha e um puma selvagem desfilou pelas ruas vazias de Santiago, no Chile. Em Pernambuco, pouco mais de um mês após o início das restrições sociais, os efeitos já começam a ser sentidos na natureza. Em março, foi constatada a redução de 15% da emissão de gases no Complexo Industrial de Suape. A área central do Recife, considerada uma ilha de calor, esfriou de 3º a 4º C neste período de reclusão, segundo a bióloga Soraya El-Deir, professora de gestão ambiental da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Na semana passada, um cardume gigante de sardinhas apareceu pela primeira vez em nove anos na Bacia do Pina. Acontecimentos que evidenciam o forte potencial de recuperação que guarda o meio ambiente.

Soraya El-Deir conjectura algumas hipóteses que podem ajudar a entender a aproximação de espécies dos espaços urbanos. O primeiro ponto é que, por estar mais tempo em casa, o ser humano pode ter passado a escutar e observar melhor o seu entorno. “Estamos tendo mais tempo livre, com ócio produtivo muito mais significativo. Isso revela que a gente está tendo mais tempo para olhar ao redor e perceber a natureza”, levantou.

Ainda assim, é inegável que a presença humana é um fatorinibidor para outros seres vivos. “Há animais que estão aparecendo pela baixa mobilidade do homem”, disse. Na hora que saímos de cena, outros organismos conseguem surgir. É ocaso das algas marinhas nos corais. “À medida que não tem pessoas na praia, algas verdes, marrons, vermelhas e amarelas começam a povoar esse ambiente que estava muito degradado. E nesse momento chegam os pequenos animais, como crustáceos e moluscos”, revelou. O alívio na poluição e a menor locomoção dos humanos também contribuem. “Isso faz com que o meio ambiente receba menor carga tóxica. O ar mais puro faz com que os animais sejam favorecidos na sua atividades”, contou Soraya El-Deir.

O zoólogo Pedro Nunes, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), levanta também o impacto da diminuição do barulho nas cidades. “Festas canceladas, bares fechados, menos carros… Os animais mais sensíveis a ruídos, que rejeitam os centros urbanos por isso, podem se sentir mais à vontade para se aproximar”, comentou. Apesar de ser possível tecer hipóteses, ainda não há muita certeza sobre o assunto, defendeu. “Tudo isso que a gente está vendo é recente. Não dá para ver nada definitivo. Assim como a doença, sobre a qual a gente ainda está aprendendo, a mesma coisa são os efeitos do isolamento social. A gente nunca passou por isso, desde essa expansão populacional dos últimos anos”, reforçou. As mudanças que vimos, disse ele, ainda não são estruturais, e levariam mais tempo para se consolidar. “Não está havendo nada definitivo. O que as pessoas estão percebendo é que os animais que estavam nas redondezas estão tomando mais coragem, se sentindo mais seguros pra entrar mais em lugares que não entravam antes”, ponderou.